29.7.10

A Leitura do Adversário

No main event do Campeonato Italiano, que teve lugar em San Remo, em Maio de 2007, aconteceu-me jogar uma mão de um modo excepcionalmente corajos, fiando-me numa leitura de uma jogada do meu adversário que, colocada num contexto psicológico multinível, explica o efectivo sucesso da minha jogada.
Na mão em questão: com blinds a 150/300, encontro-me na BB com 44 e, depois de um fold geral, o jogador sentado no botão - um austríaco muito forte com o qual me cruzei outras vezes no circuito europeu - faz raise de 800 fichas e eu faço call. No flop sai KdQdJh e eu faço check com a intenção de dar fold - caso tivesse de enfrentar uma continuation bet do meu adversário; considerando que atacar logo, quer apostando à primeira quer um check-raise, é uma jogada que, fora de posição, considero demasiado arriscada - sobretudo nas fases preliminares dos torneios.
Inesperadamente, também o meu adversário faz check e no turn sai um 5 de copas, que oferece à board 2 flush draw possíveis. Eu aposto 1200 fichas porque, se o meu adversário - a quem doravante chamarei de Michael - se sentiu demasiado fraco para apostar no flop - fazendo o pot crescer - com uma mão do tipo 77, 88 ou A9; então terá igualmente receio de enfrentar uma aposta no turn com uma board que oferece 3 boas overcards ligadas a dois flush draws possíveis. Em breves palavras, numa situação parecida, um bom jogador como ele jamais sonharia fazer call com uma mão semelhante e tendo ainda de enfrentar outra ronda de apostas e uma série de cartas assustadoras possíveis no river em enorme quantidade.
Inesperadamente, perante a minha aposta, Michael faz raise no turn de 5 mil fichas. Provavelmente, julgando-me um jogador muito astuto e imprevisível e tendo uma mão não suficientemente forte para poder arriscar-se a enfrentar um check-raise no flop, terá planeado esperar por uma provável aposta minha no turn para poder fazer um raise substancial, que me pudesse fazer desistir da minha intenção de ganhar o pot sem uma mão digna.
O raise foi, de facto, fulminante - derivando obviamente de uma óptima leitura intuitiva acerca do facto de não ter uma mão suficientemente boa para ver o meu raise de 5 mil fichas, considerando também que a minha stack efectiva antes de eu jogar a mão era de apenas 12500 fichas!
Todos estes elementos me convenceram de que efectivamente, me encontrava numa daquelas mãos em que, entre 2 jogadores muito fortes, o "pensamento-psicologia" multínível é dono e senhor. Por conseguinte, um re-raise all in meu de mais de 6700 fichas, mesmo sendo uma quantia, digamos, bastante exígua, era suficiente para obrigar o meu adversário a fazer fold à sua mão marginal - coisa que pontualmente aconteceu, tranquilizando-me por ter escapado ao perigo de me encontrar all in contra uma sequência nuts.

por Dario Alioto

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