4.8.10

Crítica: O Mau Comportamento nas Mesas

Toda a gente fala em fair-play, aliás, recordo-me que há uns tempos atrás até era moda: crianças entravam nos jogos com bandeiras enormes a dizer fair-play, em certas jogadas os jogadores devolviam a bola ao adversário e por aí adiante. O fair-play (jogo justo, ou jogo limpo em tradução livre) é uma componente que todos acham ser essencial no desporto, mas que raramente marca a sua presença: esta é a verdade, todos o sabemos. E é pena, pois neste conceito tão renegado como é o de fair-play encontramos valores tão importantes como a disciplina, auto-controlo e respeito pelo adversário.

Como devem imaginar, todo este conceito tem uma passagem directa para o poker. Na sua enorme - e mais conhecida - vertente de torneios, considero o poker como sendo um desporto: e como tal, a vertente do fair-play deverá sempre estar presente. Mas como dito acima, esse é um sonho que dificilmente se acabará por realizar. Isto porque o poker é um jogo dificil mas atraente, que custa bastante a perder quando achamos que dominamos o jogo.

Para fintar as ilegalidades, vamos fingir que somos americanos a partir desta altura do artigo, pode ser? Quem não tem nos seus jogos caseiros, um amigo que desata a barafustar com tudo quando não tem sorte (ou simplesmente joga mal)? Um amigo que atira com as fichas quando perde, que acusa os outros de não saberem jogar tão bem como ele, que ao ser rivered paga a aposta final apenas para confirmar que está batido e depois se põe a explicar em agonia com os termos técnicos que conhece como foram boas as suas jogadas mencionando antes de cada ponto final a sorte inexplicável que o vilain teve no river? Quem não tem um/uns amigos desses?

Passemos para os casinos - aqui já podemos ser portugueses novamente - onde a situação é igual ou pior. Vejamos uma carta de uma dealer profissional brasileira de Texas Hold'em à revista FLOP:
"Ser dealer não é fácil. Nós somos os culpados, azarentos e tudo e mais alguma coisa. Somos amados e odiados simultaneamente. Às vezes, somos lentos ou apressados. Não temos o direito de ficar cansados nem de cometer qualquer erro. Todos podem perder a calma, e mesmo com todo o cansaço psicológico, somos os únicos que não podem pôr cá fora todo o stress mental. Ser uma dealer mulher é mais complicado, ainda. Mulher bonita, que trabalha à noite com jogo é lamentavelmente mal vista. E, numa fracção de segundos, os meus quatro anos na faculdade de jornalismo e mais alguns meses a estudar na Europa são rapidamente... 'foldados'."

É certo que esta carta representa, acima de tudo, o desabafo de uma dealer feminina no mundo do jogo brasileiro. No entanto, contém em segundo plano todas as acções dispensáveis e incorrectas que os jogadores têm na mesa.

As pessoas entram em stress cedo demais, e como grande parte dos jogadores que têm este tipo de atitude são inexperientes, julgam ter nuts quando não o têm. O poker é um jogo de percentagens, não de sorte. Costuma-se dizer que "a sorte é provocadora, atira-se a todos mas não é fiel a ninguém". No jogo que eu pratico, divulgo e defendo; a "sorte" representa a minha experiência e conhecimentos - e nunca gira à volta de amuletos e superstições.

De que serve estar numa mesa de poker, e estragar todo o clima de boa disposição que existe barafustando com toda a gente, culpando toda a gente... quando na verdade se calhar os culpados somos nós? Por tudo isto, considero este tipo de atitudes intoleráveis, para além de que tornam a pessoa mal vista.
É certo que existem coolers, e situações em que estamos muito à frente e acabamos por perder a mão: mas ninguém disse que o poker era um jogo fácil ou, como o ei de pôr, previsível. É importante entender que se trata de um jogo a longo prazo, e que por isso, o que realmente interessa não é a bad beat que sofremos: mas sim ter a capacidade de analisar e saber se a jogada foi boa ou não - independentemente das cartas que cruelmente foram colocadas na mesa. E após isto, colocar uma última questão: será que vale apena insultar outra pessoa, culpar a sorte e ficar mal visto por causa de uma mão de um jogo imprevisível?

por André Leitão


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2 comentários:

Unknown disse...

pois,como em todos os desportos,o fair play deveria ser mais importante mas, sabes qual poderá ser UMA das razoes? o dinheiro...hoje em dia o desporto é uma "cena" de milhoes gastos pelos clubes e teem de o reaver a qualquer custo...depois aparecem aqueles clubes a dar falencia e tal...prosigamos e passemos ao poker... se gastas 25€ num "torneio de encerramento", pensas que ali aparecm muitos novatos e prontos foi "só" 25€...mas e num WSOP? se podesses matar o gajo com as tuas maos é k sabia bem...nao digo estas palvras a pensar em ti obviamente mas em jeito de falar em 3ª pessoa mas acho k entendes ok kero dizer...o dinheiro fala mais alto k todo o fair play

André Leitão disse...

Mas é aí que eu quero chegar Mac, apostes o dinheiro que apostares o jogo não muda. Se gastas 10 mil dólares para jogar um WSOP (acho que é esse o buy-in, but not shure) tipo, sabes que vais jogar poker. Sabes que apesar desse buy-in elevado, existem muitos donks (alguns que através dos milhares de satélites nas mais variadas salas on-line pagaram pouco ou que até não pagaram nada para estar ali) e existe a probabilidade de ires embora com más jogadas, coolers e bad beats. Portanto, o jogo é o mesmo. Há que saber lidar com os seus lados negativos, e é por isso que acho mal muita malta que vai pas WSOP com o dinheiro contado. Eu neste momento se tivesse $10000 não ia jogar as WSOP xD À que ter banca para aquilo, e saber levar o jogo como é. Claro que isto é muito bonito de dizer, mas nem todos são assim e depois vê-se o que se vê :P

Cumprimentos,
André Leitão