10.1.10

Na conversa com: Andy Bloch (O Poker na TV)

Entrevistador: Hoje iremos falar um pouco acerca do Poker na Televisão. Todos sabemos que o poker na televisão pode ser algo extremamente excitante, mas se é novo no poker é melhor ter algumas notas em conta antes de começar a jogar como os doidos-agressivos que vemos na TV. Temos aqui alguém que será um perito para discutir este assunto, tendo em conta o seu currículo. Fez duas mesas finais na WSOP e duas mesas finais no WPT, Andy Bloch. Andy, obrigado por discutires isto connosco.

Andy Bloch: Obrigado por me ouvirem.

E: Alguém que vê poker na TV e quer iniciar-se na modalidade poderá ter alguns problemas. O poker na televisão é muito divertido e muito excitante de ver, mas obviamente não estão a ver todo o torneio e a tomar em conta concelhos errados acerca do que estão a ver. Isto é verdade?

AB: Sim, o mais verdade possível. Assistimos a um programa como o WPT, e o que parece é que o jogo está a ser contínuo. Mão após mão. Os produtores dão tudo para que o programa fique nesse aspecto, e penso que não estão a ajudar em nada as pessoas que se querem iniciar no poker. Claro que é interessante e parece uma história contínua e sem cortes, mas não conta a história certa. A verdadeira história do poker mostra muitas mãos com que se dá raise e ninguém vai ver o flop, ou raises e re-raises por alguém que tem mãos do tipo 88 ou 99. Não é como se vê bastante, que quem aumenta tem K8, A2 ou 73 off-suit. Vemos mãos dessas ocasionalmente, e seria interessante ver todas as mãos e perceber quem é o maniac e quem o está a fazer de 20 em 20 mãos. Isso sim, seria interessante.

E: Jogou contra Gus Hansen, numa das mesas finais do WPT. Foi a primeira vez do Gus no WPT, e toda a gente falava acerca de ele ser um maniac porque jogava todas as mãos que tinha. Quero dizer, o WPT deve adorar este tipo! Esteve heads up com ele em algumas mãos, será que se corre o risco de as pessoas assistirem a isto e pensarem que é assim que se deve jogar poker?

AB: Bem, eu sabia o que esperar do Gus Hansen. O WPT ainda não tinha ido para o ar, e por isso a maior parte das pessoas não sabia como é que ele jogava as mãos que tinha. Eu não sabia que ele uma vez me conseguiu bluffar numa mão, apesar de eu ainda ter pensado nisso. Mas ele é o tipo de jogador que joga muitas mãos, e falando por mim acontece que ele foi muito afortunado quando contra o meu AT fez dois pares com T3 off-suit. Eu dei call até ao river. E houve uma mão em que ele teve bastante sorte, porque o flop veio de uma maneira perfeita para ele fazer bluff. Porque a minha estratégia era dar-lhe call a menos que estivessem 4 cartas para straight na mesa. A jogar como ele, às vezes tem-se sorte e outras vezes não. Por outro lado, ás vezes é a maneira certa de se jogar. Jogar um poker agressivo e mais mãos do que o normal, porque podemos começar a ser rotulados como ultra-tights. Por isso ele vê muitas mãos, e raisa ocasionalmente com J7 off-suit e de certa maneira é a jogada correcta; porque se ele é o chipleader está a colocar pressão nos adversários sem ceder qualquer tipo de informação acerca das suas cartas. Por isso é a jogada correcta.

Outro factor que é bastante dificil perceber quando vemos poker na TV, são o valor das blinds e a stack de cada jogador. E isso é informação crucial, e se eu produzisse um programa de poker assegurava-me que essa informação estava sempre presente. É como assistir a um jogo de futebol sem saber o resultado, ou onde estão os jogadores. E isso afecta tudo acerca de como o jogo é jogado! E as pessoas têm mesmo de prestar atenção a isso. E quem me dera que mostrassem mais isso na TV. É muito diferente enfrentar uma aposta de mil fichas, se existem 5 mil ou 10 mil fichas no pot. E isso é uma diferença crucial, que não é muito destacada nos programas de TV.

E: Uma coisa que eu gostaria de referir, é que quando assistimos a um programa de poker na TV, 90% do episódio mostra pessoas a jogarem um poker short-stack. Isto é verdade?

AB: Sim, depois da 1ª temporada o WPT decidiu que teriam uma estrutura pré-definida de blinds para todas as mesas finais. Isto aconteceu porque na 1ª temporada existiram torneios que demoraram 8 a 12 horas a serem terminados e outros que demoravam 3 ou 4 horas. E eles queriam terminar tudo dentro de 4 a 6 horas. E uma das razões (com a qual não concordo) é que torna-se mais fácil produzir um programa coeso com um torneio desse tamanho, e que dessa maneira a própria emissão se tornava bastante mais excitante com todos os all-ins que iriam existir. E penso que isso é mesmo um enpecilho para a comunidade de poker, porque não é assim que o poker é jogado. Sim, é verdade que um torneio acaba nesses níveis. Mas se virmos as primeiras emissões do WPT, talvez os jogadores tenham ajudado, mas houve muita acção e momentos excitantes nesse jogo. E todos os jogadores que participaram, excepto uma pessoa que não se deu muito bem em futuros eventos WPT, eram profissionais. Tinhamos o Howard Lederer, o Phil Ivey, o Layne Flack, eu próprio e o Ron Rose. Aquilo era uma grande estrutura para nós! Já não conseguimos jogar esse tipo de torneios, já não se vê isso no WPT. Verão no WSOP, eles têm uma excelente estrutura de mesa final, e isso será uma grande diferença acerca de como os jogadores irão jogar o torneio.

E: Por isso em suma, antes de tentar imitar o seu maniac preferido da TV digamos numa mesa de cash game, leia um livro ou dois e mentalize-se de que o que vê está a ser referente apenas aquela mesa.

AB: Sim, leiam 1 ou 2 livros. Vejam DVD's... e estudem e aprendam, para saberem identificar aquilo que estão a ver.

Sem comentários: