14.11.09

Opinião: Mesa Final WSOP 2009

O evento mais esperado no mundo do poker teve mais uma edição, e que edição. Ausentando-me por momentos da final table e dos nomes grandes, a participação de jogadores portugueses foi bastante positiva - principalmente para os que conseguiram entrar no dinheiro.
A WSOP 2009 decorreu dentro dos parâmetros da sua estranha normalidade - falo da mítica entrada de Phil Hellmuth, dos regulares que vão todos os anos e que divertem os telespectadores com jogadas inesperadas. Por falar nestes regulares, confesso desde já que Jason Alexander (o inesquecível Constanza da série vencedora de Gremmys Seinfeld) me tem surpreendido cada vez mais a cada ano que passa. O seu jogo evolui de uma forma inacreditável, e parece que está a voltar cada vez melhor - convém não esquecer que na sua eliminação da edição de 2008 resultou de um all-in pré-flop em que Jason segurava AA. Nesta edição não foi injusta a sua saída, no entanto ficou a excelente impressão dada na feature table quando jogou mesmo ao lado de Greg Raymer. No entanto, para quem acompanhou toda a WSOP 2009, não precisava desse episódio para reconhecer a habilidade de Jason a jogar às cartas.

Quanto à final table, foi no mínimo... estranha. O Phil Ivey era sem dúvida o meu favorito, e o jogador que eu mais desejava que ganhasse a edição deste ano: vamos ser sinceros... só faltava isto ao rapaz. Era mesmo necessária aquela dama no flop? Cruel. No entanto, achei bastante exagerado o destaque que a ESPN lhe deu. Sim, é um jogador profissional na final table. Sim, é provavelmente o melhor jogador do mundo. E sim, eu queria mesmo que ele ganhasse. Mas era necessário focar o teaser inicial dos November 9 em torno do Phil Ivey? Ele nem sequer era o chip leader, era um dos short-stacks. E o exagero veio de todos os lados: desde a belíssima sequência inicial com todos os ases do desporto até que... aparece o Phil. "Será que ele é o escolhido?" Exclama Lon McEachern, seguido de frases como "Imagine o melhor jogador do mundo de poker, no maior torneio do mundo. É espectacular." Depois este exagero atinge o triplo do exagero quando é dita a frase: "Entre Ivey e a imortalidade, encontram-se 8 homens que esperam escrever o seu nome na história do poker." Basicamente, Phil Ivey contra 8 homens. É a mensagem que, tristemente, o ínicio do programa transmite. Não é verdade, e isso confirmou-se.

A final table, só a consigo resumir numa palavra: bad beats. Phil Ivey perde com AK contra AQ; Cada fez aquela recuperação espantosa de short stack a chip leader; e por aí adiante. Se isto é mau para os jogadores, é excelente para o espectáculo. A final table deste ano está recheada de all-ins e reviravoltas emocionantes. É sem sombra de dúvida um espectáculo, mesmo para quem não goste muito de poker.
Darvin Moon começou o dia como chip leader, e muito mal. Quis comandar a mesa, mas acabou por fazê-lo nas piores alturas possíveis. Isto entre shoves sem qualquer sentido, e que na minha opinião nem a leitura do adversário era desculpa. O próprio Moon admite que é novo neste jogo, e que nunca leu um livro de poker na vida. Por isso já era de esperar que o seu estilo de jogo fosse muito neste sentido, o que complica bastante a vida de todos os 8 restantes jogadores. O homem não mostrou medo de fazer raise se achar que o adversário é fraco, tenha a mão que tiver. Isto custou-lhe uma final table bastante irregular, como é óbvio. Veio umas vezes cá abaixo. Depois teve a situação do Ivey, bad beat. A situação do Akenhead, bad beat. E lá trepou na famosa escada que se chama chip rank. Por isso mesmo achei estranho - depois desta subida à custa de alguma sorte, após Cada com 2-2 bater os valetes de Saout e eliminá-lo da partida - Moon dizer a Saout: "Jogaste melhor. A final devia ser entre nós os dois." Na minha opinião não merecia o 2º lugar, mas conseguiu lá chegar e os meus parabéns por esse feito.

Quanto ao head's up, foi muito bom. Aí o estilo de Moon adaptou-se ao que a situação exigia, apesar de os comentadores não pararem de dizer que ele não tinha experiência em head's up. Quanto ao Joe Cada... talvez tenha sido um bom vencedor da edição deste ano. Teve muita sorte, isso é inquestionável. No entanto gostei da sua abordagem ao jogo quando não estava "apertado" de fichas. Prova disso foi ter desistido de AQ e AJ frente a raises de Moon, o que é incrível - visto que em head's up as mãos ganham muito mais valor, AQ é uma mão muito forte nessa situação, e Moon estava farto de mostrar o seu estilo de jogo. Cada mostrou acima de tudo muita disciplina.
Tornou-se assim o mais novo campeão do mundo de poker, batendo o recorde do ano passado de Peter Eastgate. Pessoalmente, acho que a bracelete foi bem entregue. Ela não podia ter ido era para Moon; cujas tácticas desiquilibradas para controlar a mesa falharam redondamente ao longo de toda a final table.

Por fim, gostaria de salientar o respeito com que os dois jogadores se trataram ao longo de todo o head's up. Foi muito agradável de assistir; principalmente quando Cada vence a bracelete e vê-se rodeado de amigos aos pulos e berros; e faz sinal para parar. Coloca uma cara séria, e vai cumprimentar Moon dizendo: "Jogaste muito bem, estou a ser sincero. Muito bem."

Foi uma boa edição esta de 2009, com uma final table cheia de adrenalina e emoção. Venha a de 2010!

André Leitão

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