Quando jogo com profissionais em grandes torneios ouço muito raramente estas palavras, excepto quando estamos na recta final do torneio onde as cegas são elevadíssimas e os pots são monstruosos. Nessa altura todos fazem de tudo para ganhar os pots e roubar as blinds, sendo essa a razão porque os all-ins se tornam tão repetitivos e constantes. E é aí que acontecem as conclusões mais erradas.
"O Johnny Bax fez um all-in com 6-6 numa posição média e ele é grande jogador, então isso deve ser correcto". "O Phil Ivey cobriu um all-in com A-10 fora de naipe, por isso eu vou fazer igual." "O Daniel Negreannu fez um all-in por cima de um raise e um call com 9-9. É isso mesmo, o truque é pôr fichas e ir all-in."
O que as pessoas não percebem é que esses grandes jogadores jogaram durante horas (no caso on-line) e durante dias (em torneios ao vivo) para chegarem bem colocados na recta final dos supostos torneios. Uma vez na recta final, a agressividade impera e os blinds muitas vezes representam uma boa percentagem da stack de cada jogador.
Por exemplo, numa final de torneio, numa mesa com nove jogadores temos:
Por exemplo, numa final de torneio, numa mesa com nove jogadores temos:
Player 1 - 320.000 fichas
Player 2 - 260.000 fichas
Player 8 - 49.000 fichas
Player 9 - 30.000 fichas
Blinds - 5.000/10.000 - Ante - 1.000
Ou seja, o pote tem 5.000 do small blind + 10.000 do big blind + 9.000 das antes = 24.000 fichas na mesa, mesmo antes de a mão começar.
Imaginem que o player 8 recebeu no cut-off. Ele tem 45K em fichas. Só no pot estão mais de metade das fichas que ele possui. Se conseguir roubar o pot irá passar para 69K, sem jogar. Por isso vai all-in e tenta roubar as gigantescas cegas. Todos fazem fold até ao big blind (player 2). Ele sabe que o player 8 tem enormes possibilidades de estar a roubar as blinds. Ele olha para a sua mão: . Ele faz call e:
1. Player 8 dobra e as pessoas pensam: "Tem de se apostar mesmo com K8, ainda por cima do mesmo naipe. O poker tem haver com jogar com coragem."
2. Player 8 é eliminado e as pessoas pensam: "Tem de se fazer mesmo call com A7, ás é ás. O poker foi feito para fazer call com A7".
Se esses dois jogadores forem o Doyle Brunson e o Gus Hansen, então é que as conclusões serão ainda piores: "Se o Doyle e o Gus fazem isso e eu quero ser um grande jogador, tenho de fazer igual a eles". Nada disso.
Estes tipos jogaram durante horas (ou dias) para chegar ali. Desistiram de pré-flop. Desistiram de com um rei na mesa, pois o adversário estava a dar indícios que possuía um jogo melhor. Desistiram de muitos flush draws, straight draws e pares altos. O que acontece é que essas mãos não passaram na TV!
Player 2 - 260.000 fichas
Player 8 - 49.000 fichas
Player 9 - 30.000 fichas
Blinds - 5.000/10.000 - Ante - 1.000
Ou seja, o pote tem 5.000 do small blind + 10.000 do big blind + 9.000 das antes = 24.000 fichas na mesa, mesmo antes de a mão começar.
Imaginem que o player 8 recebeu no cut-off. Ele tem 45K em fichas. Só no pot estão mais de metade das fichas que ele possui. Se conseguir roubar o pot irá passar para 69K, sem jogar. Por isso vai all-in e tenta roubar as gigantescas cegas. Todos fazem fold até ao big blind (player 2). Ele sabe que o player 8 tem enormes possibilidades de estar a roubar as blinds. Ele olha para a sua mão: . Ele faz call e:
1. Player 8 dobra e as pessoas pensam: "Tem de se apostar mesmo com K8, ainda por cima do mesmo naipe. O poker tem haver com jogar com coragem."
2. Player 8 é eliminado e as pessoas pensam: "Tem de se fazer mesmo call com A7, ás é ás. O poker foi feito para fazer call com A7".
Se esses dois jogadores forem o Doyle Brunson e o Gus Hansen, então é que as conclusões serão ainda piores: "Se o Doyle e o Gus fazem isso e eu quero ser um grande jogador, tenho de fazer igual a eles". Nada disso.
Estes tipos jogaram durante horas (ou dias) para chegar ali. Desistiram de pré-flop. Desistiram de com um rei na mesa, pois o adversário estava a dar indícios que possuía um jogo melhor. Desistiram de muitos flush draws, straight draws e pares altos. O que acontece é que essas mãos não passaram na TV!
A TV só mostra a recta final dos torneios. E daí as pessoas que assistem a esse momento tomam conclusões muito erradas. No outro dia, sentei-me com os meus amigos para jogar e era all-ins a cada dois minutos.
Divido os all-ins dos jogadores iniciantes em 4 classes:
1. Estou com medo ou revoltado
Caramba, se este tipo tiver ele faz um duplo par maior do que o meu. Se tiver um K qualquer faz sequência. Será??? Eu não mereço. Este pot era meu. Não é justo. Não pode ser. ALL IN!!!
2. Estou a fazer bluff
O tipo só fez call. Ele não deve estar assim tão forte. O segundo 4 não o ajudou em nada. Talvez ainda o tenha assustado mais. Situação perfeita para roubar. ALL IN!!!
3. Bateu o meu jogo e eu não me aguento
ALL IN!!!
4. Eu sou muito macho
Tenho . Um tipo sobe 4 vezes a grande cega em pré-flop. Eu faço um raise alto. Ele faz-me um re-raise alto. Ele acha que tenho medo dele. Eu sou macho. Comigo não. ALL IN!!!
O que fazer?
No caso 1, o seu all in não tem valor e você não deve apostar nada. Ele pode ter AA, JJ, KQ, AK, AQ, KK, 66 e você está perdido em qualquer um dos casos. Você apenas consegue ganhar a A6 ou a Ax. Todas as outras mãos são absolutamente improváveis. De nove mãos prováveis você só está a ganhar em duas. Não adianta chorar, gritar ou espernear. Se fizer all-in, ele vai fazer fold em qualquer mão perdedora e vai fazer call se tiver a mão ganha. O mais certo é fazer check e esperar pela aposta dele. A partir desse ponto, decida se paga ou desiste. Não vá all-in por medo ou revolta. Não tem nada a ganhar com isso.
No caso 2, caso resolva fazer bluff aposte 1/3 da stack do seu adversário. Não é preciso ir all-in. Se ele não tiver nada ou uma mão fraca ele vai desistir. Não é preciso colocar todas as suas fichas em jogo num bluff. Se estiver muito forte, ele fará um re-raise e aí você desiste, uma vez que não tem nada. Para quê ir all-in?
No caso 3, tente extrair fichas; não é um momento de tudo ou nada. Esse é o momento para crescer bastante em fichas. Tente atingir esse objectivo calmamente. Pense na melhor maneira de obter fichas do seu adversário. Para quê all-in?
No caso 4, pare com isso. Poker não é nenhuma prova de masculinidade. O poker é um jogo de habilidade e inteligência. Quer provar que é valente? Entre para o vale tudo.
O ALL IN DEVE SER UDADO BASICAMENTE EM 3 SITUAÇÕES:
a) Quando você quer defender a melhor mão.
Flop: . Um cara aposta, o outro paga. Você faz um raise alto imaginando que um está em flush draw (com 2 copas na mão) e o outro está em straight draw (10-J na mão, por exemplo).
Os dois jogadores pagam a sua aposta, confirmando o seu pensamento.
All-in poderá ser um óptimo movimento. Defenda a mão vencedora até ao momento. E quem quiser pagar o seu draw, que pague bastante caro.
b) Quando o adversário avisa que quer entregar tudo.
Flop: . Você faz check. Ele faz um raise alto. Você faz um raise grande nele. Ele sobe novamente colocando metade do stack dele na mesa (avisando que não vai largar a mão).
All in. Ele quer entregar tudo e você não tem como fugir. Só comemorar.
c) Em recta final de um torneio
Isso já foi falado exaustivamente em cima.
Existem dezenas e dezenas de exemplos de cada um dos tipos de all-ins desastrados que eu citei. Para cada tipo mencionado, eu poderia mostrar muitos mais exemplos de acções indevidas e incorrectas que levam os jogadores iniciantes a fazer asneira. Não tenho espaço para esmiuçar todas as situações possíveis. Aprenda com os exemplos dados, e não os cometa na sua mesa de poker. Não pense que vai aprender alguma coisa sobre como jogar um torneio de poker assistindo apenas às mesas finais em sites ou na televisão. Os all-ins sucessivos e a agressividade das mesas finais não são bons exemplos de comportamento ao longo dos torneios. São excepções, não regras.
Por Igor "Federal" Trafane, em FLOP
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